Após um período de desaquecimento causado pela alta dos juros e a retração do mercado, o setor de tecnologia voltou a registrar um crescimento significativo nas fusões e aquisições (M&A). Com a normalização dos valores dos ativos e a maior disponibilidade de capital, as transações estão ganhando novo fôlego e desenhando um cenário promissor para os próximos anos.
O crescimento das operações de M&A em Tecnologia
De acordo com dados da FZF Capital, butique especializada em M&A para empresas de tecnologia, o setor já movimentou R$ 13,7 bilhões até outubro deste ano, ultrapassando o volume total de 2023. Esse crescimento é um reflexo direto do ajuste dos preços dos ativos e da retomada do apetite por aquisições.
Nos últimos meses, algumas transações de grande porte marcaram essa retomada, como a aquisição da ClearSale pela Serasa Experian e a compra da Contabilizei pelo fundo Warburg Pincus. Além disso, a venda de uma participação minoritária da Shopper para o iFood mostra que as grandes empresas continuam atentas a oportunidades estratégicas de crescimento.
A nova dinâmica do mercado e a fuga do risco
Apesar da retomada, a seleção das empresas alvo continua rigorosa. Segundos especialistas, o mercado ainda apresenta uma postura de fuga ao risco, o que faz com que os maiores volumes de M&A estejam concentrados em empresas consolidadas e com modelos de negócios validados. Esse comportamento é reflexo de um aprendizado recente: após os valuations inflacionados de 2020 e 2021, investidores e compradores estão mais criteriosos na precificação e seleção de ativos.
Uma das tendências que vem ganhando espaço é o movimento de fundos de “venture capital” que, após um período focando na reorganização interna, agora estão direcionando capital para aquisições de empresas mais maduras e geradoras de caixa. Isso sinaliza um mercado mais equilibrado, onde a busca por startups menores poderá ser a próxima etapa desse ciclo de crescimento.
Novos nichos que devem atrair a atenção dos investidores
A retomada dos investimentos está sendo mais expressiva em nichos específicos, como fintechs e empresas de software, que apresentam modelos de negócio mais resilientes e de crescimento acelerado. O segmento de varejo digital também continua aquecido, especialmente com plataformas voltadas para escalabilidade e automação de vendas.
No setor de tecnologia para saúde, observa-se um aumento na demanda por aquisições, com empresas de soluções de gestão hospitalar e prontuários eletrônicos ganhando protagonismo. Além disso, infraestrutura de dados e cibersegurança são apontados como segmentos estratégicos para investidores que buscam soluções inovadoras e escaláveis.
Perspectivas para 2025
A projeção para 2025 é de um mercado de M&A tecnologicamente maduro e mais seletivo. Segundo Ricardo Assef, vice-presidente da 23s Capital, apesar do otimismo, o setor ainda enfrenta desafios ligados à adoção de novas tecnologias e às barreiras de implementação. A ponte entre os fundos de “venture capital” e o mercado de capitais ainda precisa ser melhor estruturada para viabilizar um fluxo contínuo de investimentos.
No entanto, alguns fatores econômicos podem impactar a retomada desse movimento. Questões macroeconômicas como ajuste fiscal, reforma tributária e políticas monetárias, incluindo a taxa Selic, influenciam diretamente na disponibilidade de capital e apetite por risco no mercado de aquisições.
A retomada das fusões e aquisições no setor de tecnologia é um reflexo da maturidade do mercado e do ajuste nas avaliações de ativos. Embora ainda haja cautela, os grandes players estão voltando ao jogo, buscando oportunidades bem estruturadas e com alto potencial de crescimento.
Com a expansão da liquidez e a estabilização do ambiente macroeconômico, é possível que a próxima fase do ciclo inclua startups menores, alavancando novas ondas de inovação. O mercado está evoluindo, e as empresas que souberem se posicionar estratégica e financeiramente tendem a se destacar nesse novo cenário de oportunidades.
