O mercado brasileiro de provedores de Internet vive uma nova fase. Após o intenso movimento de fusões e aquisições (M&A) durante os anos da pandemia, o cenário atual exige mais maturidade, estratégia e estrutura. A consolidação do setor continua, mas com um ritmo mais técnico e profissional. Entenda os principais desafios e oportunidades desse novo momento.
A consolidação natural de um setor competitivo
De acordo com Célio Nunes, cofundador da Brasa Capital, a consolidação entre provedores é um processo natural em setores com alta demanda de capital e forte concorrência. As fusões e aquisições permitem ganhos de escala, o que é crucial em um ambiente onde tecnologias como inteligência artificial exigem infraestruturas mais robustas.
O executivo destaca que o setor já passou por três fases distintas:
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Acesso ao capital,
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Surgimento de grandes consolidadores,
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Consolidação estruturada, em que estamos atualmente.
Embora haja incertezas sobre o ponto exato do ciclo, há consenso de que o movimento de M&A permanece ativo, porém mais seletivo e estratégico.
Desafios nas negociações
Um dos grandes entraves no processo de fusões e aquisições é o alinhamento entre comprador e vendedor. Como explica Thales Almeida, diretor de novos negócios da Vero, o comprador avalia a operação de forma racional, analisando riscos e retorno financeiro. Já o vendedor, geralmente, tem uma ligação emocional com a empresa, o que pode dificultar a negociação de preço.
Essa diferença de visão torna as negociações mais complexas e exige habilidade para encontrar um equilíbrio entre razão e emoção.
Maturidade e qualidade substituem a euforia
Álvaro Menezes, diretor de M&A da Alares, afirma que o foco deixou de ser a expansão acelerada e passou a ser a qualidade dos ativos. Hoje, além da infraestrutura, as empresas interessadas em adquirir provedores analisam aspectos como:
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Eficiência da gestão,
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Qualidade da rede,
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Potencial de crescimento futuro,
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Capacidade de integração.
A profissionalização é essencial. Um exemplo é a própria Alares, que já opera com 110 mil clientes sob um único sistema de CRM, facilitando a unificação das operações e acelerando o retorno do investimento.
IPO ainda fora do radar da maioria
Apesar de o mercado de M&A continuar ativo, a abertura de capital (IPO) ainda é uma realidade distante para a maioria dos provedores. O cenário macroeconômico com juros altos e baixa previsibilidade afasta investidores e inibe novas ofertas públicas.
Mesmo empresas estruturadas, como a Vero e a Mhnet, que já se preparam para o IPO, aguardam um ambiente mais favorável. Por enquanto, o foco segue no crescimento orgânico e na diversificação dos serviços, como segurança digital e aumento do ticket médio.
Formalização, o critério decisivo para fusões e aquisições
A formalização das operações é um fator decisivo para que um provedor seja considerado em um processo de fusão ou aquisição. Empresas sem documentação adequada da rede, sem conformidade fiscal ou regulatória, simplesmente deixam de ser atrativas.
Segundo Patrick Canton, CEO da Mhnet, a informalidade foi motivo para desistência de negociações. Célio Nunes reforça que a falta de formalização tira o provedor do radar dos investidores.
Além disso, a reforma tributária traz impactos relevantes para o setor, principalmente para pequenos provedores que operam no Simples Nacional. A escala passa a ser ainda mais necessária para garantir competitividade no novo cenário fiscal.
Reinvenção
O crescimento baseado apenas na construção de infraestrutura física chegou ao limite. As empresas precisam se reinventar para continuar atrativas no mercado de M&A.
Isso significa investir em novos serviços, melhorar a experiência do cliente e buscar diferenciais competitivos reais. Como aponta Nunes, “para uma empresa ter valor no mercado, é necessário oferecer retorno, qualidade e inovação”.
fonte: Telesintese